A Igreja em relação à Política e Eleições
I. Introdução
Nestas últimas semanas, recebemos várias manifestações em que membros
de nossa igreja reclamam ou se queixam a respeito de certas manifestações
de membros e pastores de nossa igreja em relação às disputas eleitorais em
andamento em nosso país. Assim, a Diretoria Nacional da IELB decidiu enviar
uma orientação aos pastores e congregações, a fim de que nossa participação
nestas disputas se oriente pelas nossas convicções, baseadas nas Escrituras
Sagradas e Confissões Luteranas.
II. Os cristãos e as eleições
O que um cristão é chamado a fazer, especialmente num ano de eleições em
nosso país? Muitos dos assuntos políticos que enfrentamos no Brasil têm forte
implicação moral. Diante disso, precisamos firmar-nos nas Escrituras Sagradas
e em nossas Confissões, posicionando-nos claramente neste período de
eleições.
A base do posicionamento de nossa igreja está no ensinamento bíblico da
doutrina dos dois reinos, ou seja, o reino espiritual de Cristo e o governo
terreno. Passagens bíblicas chaves para este ensinamento são as seguintes:
1Pedro 2.9-10, 13-17; Hebreus 11.13-16; 13.14; Mateus 16.18; Lucas 12.14;
2Coríntios 10.4-5; Romanos 1.16; e 13.1-7.
Reconhecendo os dois reinos, vemos claramente, em Romanos 13.1-7 e
1Pedro 2.13-17, que o Criador instituiu o governo político como meio pelo
qual Ele procura preservar e guiar a vida na comunidade entre os seres
humanos caídos. Esta é uma estrutura passageira, ou provisória, designada
para dirigir e regular o relacionamento político entre as pessoas durante o
intervalo entre a queda em pecado e o retorno do Senhor Jesus Cristo.
Portanto, é importante a participação dos cristãos nesta estrutura política.
Pois, sem a participação ativa dos cristãos, esta estrutura só pode ser
destrutiva não só para os cristãos, mas para todos os cidadãos. Por isso, a
Confissão de Augsburgo resume bem os ensinamentos bíblicos de como os
cristãos podem participar ativamente, quando diz:
Das coisas civis (os nossos) ensinam que ordenações civis legítimas são
boas obras de Deus e que é lícito aos cristãos exercer ofícios civis, ser
juízes, julgar segundo as leis imperiais e outras leis vigentes, impor pena
segundo o direito, fazer, segundo o direito, guerra, prestar serviço
militar, ...” (Art. XVI,1-2).
Embora não se mencione os cargos políticos de hoje, pois estes não existiam
na época em que a Confissão de Augsburgo foi escrita, mesmo assim eles
estão incluídos na expressão “ofícios civis”. Portanto, temos aqui clara
orientação para nós nestes tempos difíceis em que passamos em nosso país.
E podemos resumir esta orientação nos seguintes pontos:
1. Os cristãos devem resistir à tentação de tornar o governo terreno em
um meio para promover o reino espiritual de Cristo.
2. Os cristãos também precisam reconhecer que não haverá governo
terreno perfeito, pois todo governo terreno, sendo parte da criação
caída em pecado, está sujeito a errar. Desta forma, o cristão deveria se
abster de fanatismo, pois sempre estará defendendo uma estrutura
humana de governo e, por isso, imperfeita.
3. O governo terreno apenas funciona para restringir o mal e encorajar o
bem, mas isso é feito de modo limitado. Todavia, assim mesmo este
governo permanece sob o controle de Deus.
4. Portanto, os cristãos precisam engajar-se em orar pelo governo e todos
os que ocupam ofícios no governo (cf. 1Timóteo 2.1-2), para que
possam realizar o que Deus espera deles.
5. Além disso, os cristãos também devem buscar “ofícios civis”, seja nos
Municípios, seja nos Estados, ou no Governo Federal, para serem
vereadores, prefeitos, deputados estatuais ou federais, senadores, e
mesmo presidente da República. Pois, quanto mais cristãos verdadeiros
participam ativamente do governo terreno, tanto mais justo ele será em
seu desempenho.
6. Assim, os pastores, que atuam no Reino Espiritual de Cristo, precisam,
sim, passar aos cristãos as qualificações necessárias de candidatos a
qualquer uma das posições governamentais. No entanto, eles devem
evitar totalmente posicionar-se publicamente em favor de qualquer um
dos candidatos, seja no relacionamento pessoal com membros da
igreja, seja em reunião de membros, seja em cultos, ou através de
meios de comunicação, inclusive os meios digitais, pois tais
posicionamentos trarão divisão para dentro da igreja.
7. Isso, porque cada cristão, analisando as qualificações dos candidatos, é
livre para se posicionar e votar no candidato que, na sua visão, poderá
melhor servir na posição que vier a ocupar. Como resultado, em cada
congregação não haverá unanimidade em favor de candidatos.
Portanto, o pastor, caso se posicione em favor de um ou de outro,
causará divisão e prejudicará o trabalho na congregação e o avanço da
missão.
III. Conclusão
Sem dúvida, o momento que o Brasil está passando é complicado. Isto está
ocorrendo não só por ser um período de eleições, mas pela corrupção que se
tem estabelecida e espalhada. Diante disso, temos observado que há
diferentes igrejas que estão se posicionando politicamente em favor de um ou
outro candidato.
Assim, julgamos importante encaminhar-lhes a orientação acima, para que a
Igreja Evangélica Luterana do Brasil se mantenha equilibrada, de acordo com
o que ensinam as Escrituras Sagradas.
Que Deus conceda a todos a sabedoria e a confiança de que Deus jamais
deixará de estar no controle do que ocorre neste mundo, inclusive em nosso
Brasil.
Saudações em Cristo.
21 de setembro de 2018